A CEIA DO SENHOR

Postado em 12 de novembro de 2018 por

Categorias: Pregações

Pr Luciano R. Peterlevitz, Igreja Batista Bela Vista, 11.11.2018.

1Coríntos 11.17-34

 

Introdução

1Coríntos 11.17-34 apresenta-nos uma palavra de alerta sobre a nossa participação na Ceia do Senhor (observe que a expressão correta é “Ceia do Senhor”, e não “Santa Ceia”; os elementos da Ceia não são santos). O perigo é participar da Ceia como um mero ritual, sem a consciência do real significado desse ato, e sem emoção no coração. Participar da Ceia do Senhor de forma ignorante, apática e displicente atrai a condenação de Deus sobre nós, e faz mal para nossa vida.

O objetivo dessa mensagem é refletir nas orientações que Paulo deu aos crentes de Corinto acerca da Ceia, realçando o significado da Ceia do Senhor e como nós devemos participar dela.

 

As rixas e o egoísmo: problemas sérios para a celebração da Ceia do Senhor: v.17-22

As reuniões da igreja de Corinto não fazia bem para os participantes. As reuniões faziam “mais mal do que bem” (v.17).

De acordo com os v.17-22, havia pelos menos dois problemas:

1) Divisões entre os crentes (v.18-19; cf. 1.10); havia divergências, partidarismos (cf. 1.12).

2) Egoísmo: os pobres eram desprezados, e os ricos se embriagavam (v.20-22). O pano de fundo dos v.21-22 é a Festa Ágape (Jd 12, “festas de fraternidade”). Os cristãos se reuniam para repartir a alimentação; comiam e bebiam, e depois, celebravam a Ceia. Na Festa Ágape, os pobres tinham acesso ao alimento abundante. Mas na igreja de Corinto, os pobres passavam fome.

 

Como celebrar a Ceia do Senhor?

Warren Wiersbe afirma corretamente que, quando celebramos a Ceia, olhamos para trás (V.23-25),para frente (v.26), para dentro (v.28) e ao redor (v.29-34).[1]

 

Quando celebramos a Ceia, olhamos para trás: v.23-25

Na Ceia, olhamos para trás, ou seja, olhamos para história passada e lembramos o que o Senhor Jesus fez por nós na cruz. Na Ceia, temos dois elementos: o pão, símbolo do corpo de Jesus (v.24), e o cálice, símbolo do sangue do Senhor (v.25).

“Isto é o meu corpo” (v.24). “Este cálice é a nova aliança no meu sangue” (v.25). Qual o significado dessas palavras?

A interpretação da Igreja Católica: o pão e o vinho se tornam realmente o corpo e o sangue do Senhor (transubstanciação).

A interpretação da Igreja Luterana: o corpo físico de Cristo e o seu sangue estão presentesnos elementos da Ceia, embora não ocorra nenhuma transformação dos elementos (consubstanciação). Como a água presente em uma esponja. A esponja continua sendo esponja, mas possui em si a água.

A interpretação de outras igrejas reformadas e da Igreja Batista: o pão simboliza o corpo de Cristo, e o cálice simboliza o seu sangue. O pão e o cálice não são sagrados. Por isso, não dizemos “Santa Ceia”. Pois os elementos da Ceia são simbólicos e memoriais (“façam isto em memória de mim” – v.24,25).

De fato, Cristo está presente, não nos elementos, mas em nossas vidas. E quando participamos da Ceia, estamos nos apropriando dos benefícios da obra que Cristofez por nós.[2] Quando nos reunimos para celebrar ao Senhor, Cristo está presente, e certamente ele está presente na Ceia. “Não é verdade que o cálice da bênção que abençoamos é uma participação no sangue de Cristo, e que o pão que partimos é uma participação no corpo de Cristo?” (1Co 10.16). “Nós o encontramos à sua mesa, à qual ele vem dar-se a si mesmo para nós. Quando recebemos os elementos do pão e do vinho na presença de Cristo, dele participamos bem como de todos os seus benefícios”.[3] Todas às vezes que nos aproximamos na mesa da Ceia, ouvimos a voz do Senhor: “Isto é o meu corpo, que é dado em favor de vocês”.

Portanto, quando celebramos a Ceia, olhamos para a história passada, para aquilo que Jesus fez por nós na cruz. Lembramos sua morte. Em Cristo, temos salvação plena. Em Cristo, todos os nossos pecados são perdoados. Em Cristo, temos esperança.

Muitas pessoas pedem provas para Deus. Quer uma prova do amor de Deus? Olhe para a cruz. Deus prova o seu amor para conosco pelo fato de ter enviado Jesus para morrer por nós, sendo nós ainda pecadores (Rm 5.8).

 

Quanto celebramos a Ceia, olhamos para frente: v.26

Através da Ceia anunciamos “a morte do Senhor até que ele venha” (v.26). Olhamos para o futuro, para aquele acontecimento que a Igreja aguarda com grande expectativa: a segunda Vinda do Senhor Jesus.

Quando tomou a Ceia com seus discípulo, o Senhor Jesus disse: “Eu lhes digo que, de agora em diante, não beberei deste fruto da videira até aquele dia em que beberei o vinho novo com vocês no Reino de meu Pai.” (Mt 26.29 – NVI).

A Ceia do Senhor aponta para a bodas do Cordeiro. “Felizes os convidados para o banquete do casamento do Cordeiro!” (Ap 19.9 – NVI).

A Igreja aguarda com esperança e fé a Segunda Vinda do Senhor Jesus. Ele retornará para pôr fim a história presente e as aflições dos santos. Os mortos ressuscitarão e haverá novos e nova terra.

“Aquele que dá testemunho destas coisas diz: Certamente, venho sem demora. Amém! Vem, Senhor Jesus!” (Ap 22.20). Maranata! Vem Senhor Jesus!

 

Quando celebramos a Ceia, olhamos para dentro: v.27,28

V.27: “Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpado de pecar contra o corpo e o sangue do Senhor.” Comer o pão ou o beber o cálice do Senhor indignamente significa desprezar a graça de Deus e a eficácia do sacrífico de Cristo. Comer dignamente não significa ir à mesa do Senhor achando que bondade ou justiça em nós mesmos, antes, significa ir à mesa do Senhor acreditando que só estamos ali por sua graça, reconhecendo a gravidade do nosso pecado e o completo perdão de Deus mediante o sacrífico de Jesus. Quem participa da mesa indignamente, não usufruindo e apropriando-se dos benefícios do sacrifício de Jesus, é “culpado de pecar contra o corpo e o sangue do Senhor”, ou seja, é tão culpado quanto aqueles que crucificaram Cristo.

V.28: “Examine-se o homem a si mesmo, e então coma do pão e beba do cálice”. O autoexame significa uma análise de quem realmente somos diante de Deus. Isso precisa ser feito com a consciência do que realmente significa pecado. Não podemos eleger alguns pecados que impendem a participação na Ceia, como por exemplo, falta de perdão ou imoralidade. Na verdade, todo pecado é ofensa à santidade de Deus. Não só o vício de fumar e beber, mas o vício do uso do celular ou de redes sociais. Não só o adultério como ato, mas o desejo de possuir alguém, que, conforme Jesus, é adultério também. Não só a imoralidade com o corpo, mas a idolatria ao corpo (a busca do corpo perfeito), e o desprezo ao corpo como santuário do Senhor (quando não cuidamos da saúde). Não só o ódio e o assassinato, mas a falta de amor e de misericórdia, demonstrada, por exemplo, quando fofocamos. Enfim, todo pecado não confessado e não reconhecido, nos torna indignos da participação da Ceia.

É importante notar que Paulo não diz: “Examine-se para ver se você pode comer”, ou “examine-se e não coma”. Mas diz: “Examine-se o homem a si mesmo, e então coma”. “Você não deve fugir da Ceia por causa do pecado, mas fugir do pecado por causa da Ceia. A Ceia é um momento de restauração. A Ceia é um tempo de cura, de reconciliação e restauração. A Ceia é o momento em que devemos aguçar os sentidos da nossa alma para examinar-nos a nos voltarmos para o Senhor”.[4]

Como batistas, acreditamos que a Ceia do Senhor é uma ordenança (à semelhança do batismo), ou seja, foi ordenada pelo próprio Senhor, e precisa ser celebrada por seus discípulos.

Outro ponto muito importante: cada um deve se examinar a si mesmo. Não é igreja, o pastor ou outra pessoa que deve fazer isso. Mas sim, unicamente aquele que participa da mesa do Senhor.

 

Quando celebramos a Ceia, olhamos ao redor: v.29-34

O que significa “discernir o corpo” (v.29)? O “corpo”, aqui, é o corpo de Cristo moído na cruz. Mas também é uma referência à igreja, o corpo de Cristo. Participar da Ceia sem discernir o corpo significa ignorar a unidade do corpo de Cristo (cf. 1Co 10.17). “Significa não dar atenção aos nossos irmãos e irmãs quando vamos participar da ceia do Senhor, na qual devemos refletir o caráter de Cristo”.[5]

Na Ceia, olhamos ao redor, olhamos para os irmãos que necessitam de nossa ajuda e de nossa oração.

Você tem orado por seus irmãos e irmãs? Você tem buscado aqueles que estão ausentes do nosso culto? Você tem se alegrado com os que se alegram e chorado com os que choram?

 

Conclusão

Quando celebramos a Ceia do Senhor, olhamos para trás (lembramo-nos do sacrifício de Cristo na cruz), olhamos para frente (alimentamos a expectativa da segunda Vinda de Jesus), olhamos para dentro (realizamos um autoexame) e olhamos ao redor (oramos uns pelos outros e nos dispomos a ajudar aqueles que precisam de nossa ajuda).

A Ceia é um momento para trazermos à memória o que Jesus fez por nós na cruz. Trazemos à memória quem nós somos (pecadores e indignos), e também trazemos à memória quem Deus é (gracioso e misericordioso). Por isso, esse não é um momento de nos afastarmos da Ceia, mas sim, para é um momento para dela participarmos, com nosso coração contrito, arrependido e confiante na eficácia do sacrífico de Cristo para nosso perdão. A Ceia é uma oportunidade de restauração. É um momento para se voltar ao Senhor e para o próximo.

 

 

 

[1] Warren W. Wiersbe, Comentário bíblico expositivo, vol. 5, 2006, p. 792-793.

[2]Wayne Grudem, Teologia Sistemática: atual e exaustiva, São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 836.

[3]Wayne Grudem, Teologia Sistemática, p. 841.

[4] Hernandes Dias Lopes, 1Coríntios: como resolver conflitos na Igreja, São Paulo: Hagnos, 2008, p. 216.

[5]Wayne Grudem, Teologia Sistemática, p. 841.