AS MARCAS DO VERDADEIRO AMOR
Pr Luciano R. Peterlevitz – Igreja Batista Bela Vista, 26.01.2020
TEXTO: 1Coríntios 13.4-8a
INTRODUÇÃO
Em 1Co 12.1—14.40 o Paulo fornece algumas orientações sobre o exercícios dos dons espirituais no contexto da igreja de Corinto. Em 1Co 12.31, o apóstolo abre um tipo de parênteses, para falar de “um caminho sobremodo excelente”, muito mais importante do que os dons espirituais, a saber, o amor. Esse é o assunto de 1Co 13. Entretanto, é melhor considerar 1Co 13 não um “parênteses”, mas sim, o centro (mais importante), pois trata daquilo que é essencial para o exercício dos dons: o amor.
Os dons espirituais voltam a ser abordados em 1Co 14.1. Os dons devem ser procurados com zelo, sem ignorar a importância do exercício do amor.
“Dons não nos transformam em autoridades, mas em servos”.
1Co.13.4-7. “Os verbos que Paulo usa estão todos no presente contínuo, indicando ações e atitudes que se tornam habituais, gradualmente incorporadas através de constante repetição” (David Prior). O amor se define por atitudes habituais que devem ser constantemente repetidas. Um comentarista frisou muito bem que esses quatro versículos descrevem o caráter de Jesus, de modo que se poderia substituir a palavra “amor” por “Jesus”.
Se não tiver amor, TUDO SERÁ INÚTIL: v.1-3
Se não tiver amor:
A linguagem, por mais audível que seja, de nada adiantará: v.1
O conhecimento e a fé, por maiores que sejam, de nada adiantará: v.2
Os atos de caridades, por mais sacrificiais que sejam, de nada adiantará: v.3
Nos versos 4-8a, Paulo alista as marcas do verdadeiro amor. Vejamos.
O AMOR É PACIENTE: V.4
“Paciente”: significa ter paciência frente a ofensas e injúrias.
“Há pessoas que têm o pavio curto e outras que nem têm pavio. As pessoas estão parecendo barris de pólvora: explodem ao sinal de qualquer calor.” (Hernandes Dias Lopes).
Cônjuges que explodem facilmente um com o outro estão arruinando o casamento. Em algum momento essas explosões de ira vão derrubar a casa.
O AMOR É BENIGNO: V.4
“Benigno”: agir amorosamente com aqueles que nos maltratam. É retribuir o mal com bem. Lembremos: retribuir o bem com o bem é humano; retribuir o bem com o mal é diabólico; retribuir o mal com o bem é divino (Martin Lloyd-Jones).
A tendência da natureza humana, corrompida pelo pecado, é retribuir a ofensa com ofensa. “Ele/ela me paga”, muitos dizem.
O AMOR NÃO ARDE EM CIÚMES, NÃO SE UFANA, NÃO SE ENSOBERBECE: V.4
- O amor não arde em ciúmes.
A expressão “arder em ciúmes” (grego zeloo) significa “arder em zelo”. Tratava-se de um tipo de inveja, que, no contexto de 1Co 12-14, era um zelo doentio. Os crentes de Corinto orgulhavam-se dos seus dons espirituais e competiam entre si. Aparentemente tinham zelo pelas coisas espirituais. Falavam em línguas. Mas não falavam a linguagem do amor. Sentiam inveja e ciúme uns dos outros.
O “amor não se aborrece com o sucesso dos outros” (Leon Morris). O amor leva-nos não somente a chorar com os que choram, mas também nos conduz a alegrar-se com os que se alegram. No entanto, alegrar-se com os que se alegram é muito mais difícil do que chorar com os que choram.
Você se alegra com as vitórias do outro? Muitos sentem-se inseguros com o sucesso do outros.
Por que queremos ter as coisas que os outros têm? O desejo exacerbado de possuir as coisas que os possuem tem um nome. Inveja.
- O amor não se ufana e não se ensoberbece.
“Ufanar” significa “gabar-se”.
“Ensoberbecer” tem o sentido de “inchar, tornar arrogante”, “estar cheio de si”. Os crentes da igreja de Corinto precisam saber que na presença de Deus não existe espaço para a vanglória: 1Co 1.29. Quem quer se orgulhar, que se orgulhe no Senhor revelado na cruz: 1Co 1.31.
Uns dos grandes problemas das pessoas orgulhosas é que elas não conseguem pedir perdão e reconhecer seus erros. Acham-se “donas da verdade”. A pessoa orgulhosa vive cheia de si mesma.
O problema é que não há espaço para Cristo em nossa vida quando somos governados peloEU. Será que nós podemos dizer como Paulo: “não mais eu vivo, mas Cristo vive em mim”? Nós estamos cheios de nós mesmos ou estamos cheios de Cristo?
O AMOR NÃO SE CONDUZ INCOVENIENTEMENTE, NÃO PROCURA OS SEUS PRÓPRIOS INTERESSES: V.5
O amor é o oposto de egoísmo. A pessoa egoísta pensa somente me si mesma, “procura os seus próprios interesses”. Isso é uma forma inconveniente de proceder.
Na igreja de Corinto existiam vários partidos: 1Co 1.12.
O conflito surge quando cada um pensa somente em si mesmo e passa a defender seus próprios interesses. Por que surgem as contentas? “Porque estamos sempre lutando pelo que é nosso e nunca pelo que é do outro” (Hernandes Dias Lopes).
O amor, conforme apresentado em 1Co 13, “…faz-nos olhar para fora, identificando os interesses dos outros: quando percebemos que o nosso comportamento ou as nossas atitudes estão prejudicando ou magoando alguém, o amor nos impele a eliminar essas trevas internas através da graça do Senhor.” (David Prior).
O AMOR NÃO SE EXASPERA, NÃO SE RESSENTE NO MAL: V.5
“Exasperar” significa “queimar de raiva”. A raiva é resultado do egoísmo, de um desejo não realizado. Os crentes de Corinto eram egoístas e carnais (1Co 3.3).
“Ressentir” pode ser traduzido como “contar, calcular, computar”. É a mágoa guardada no coração. É aquela pessoa que contabiliza tudo o que dizem ou fazem contra ela. O amor quebra a calculadora da mágoa.
O AMOR NÃO SE ALEGRA COM A INJUSTIÇA, MAS REGOZIJA-SE COM A VERDADE: V.6
O amor é justo. Em uma situação de conflitos, normalmente queremos defender nosso lado, e não nos interessamos muito pela verdade.
A pessoa que só pensa em si mesma e não age com amor não está preocupada com a verdade. Ela está preocupa com aquilo que lhe traz benefícios.
Problema: quando queremos vencer uma discussão e mostrar que o outro está errado. Por exemplo, no casamento. Na verdade, deveríamos focalizar o problema, do qual, junto com nosso cônjuge, certamente também somos responsáveis. Não existe casamento conflituoso em que somente um dos cônjuges esteja errado. Sempre haverá problemas em ambas as partes. Por isso, quando o casamento entrar em crise, a pergunta que você deve fazer ao seu cônjuge não é “o que há de errado com você”, mas sim “o que há de errado em nós”. Lembre-se: você é parte do problema.
E pode ser que grande parte do problema esteja em você. Lembre-se que o amor regozija-se com a verdade, ainda que isso venha humilhar e esmagar o seu ego e os seus interesses pessoais.
Outro ponto importante. Como pastor, tenho percebido que as pessoas querem o amor, mas não querem a verdade. Não gostam de ser corrigidas. “Se você quer oposição, é só falar a verdade”, disse um antigo escritor da Idade Média.
O AMOR TUDO SOFRE, TUDO CRÊ, TUDO ESPERA, TUDO SUPORTA: V.7
- O amor tudo sofre.
O verbo stego significa “cobrir” ou “suportar”. Primeiro sentido: apagar no outro aquilo que lhe é desagradável. Na verdade, nossa tendência é julgar o outro, realçando os seus erros e defeitos. Segundo sentido: aguentar as debilidades do outro. Amar significa abrir mão de um direito a fim de que o outro seja favorecido (1Co 9.12).
- O amor tudo crê e tudo espera.
Os crentes de Corinto não acreditavam na mensagem verdadeira anunciada pelo apóstolo Paulo, mas davam crédito à mensagem dos falsos apóstolos (1Co 4.3-5; 9.1-3). Eles não acreditavam que Deus poderia usar a vida de Paulo. Diziam que ele escrevia bem, mas sua presença era fraca. No entanto, o amor consegue enxergar o que há de melhor nos outros.
Muitas pessoas enxergavam Pedro, Tiago e João e André como meros pescadores. Jesus os enxergava como pescadores de homens. Muitas pessoas viam Paulo como perseguidor do Evangelho. Jesus olhou para Paulo e viu-o como pregador do Evangelho.
Isso é amor. É conseguir ver o que Deus pode fazer de melhor na vida do outro. O amor “espera” isso.
O amor tudo suporta. O verbo hupomeno apresenta a ideia de constância, e significa “sofrer, aguentar bravamente e calmamente os maltratos” (Strong’sGreek). “É a resistência de um soldado que, no grosso da batalha, não fraqueja, mas continua a atirar sem parar, vigorosamente. O amor não se deixa vencer, mas faz a sua parte, varonilmente, sejam quais foram as dificuldades.” (Leon Morris).
O AMOR JAMAIS ACABA: V.8a
O amor jamais acaba. Mas porque o amor acabou, em muitos casamentos? O amor descrito aqui em 1Co 13. Esse amor jamais acaba.
CONCLUSÃO
David Prior diz que Deus está esculpindo em nós a imagem do seu Filho. Oswald Chambers explica: “Deus sempre nos golpeia com coisas comuns, usando pessoas comuns.” O amor sacrificial de Cristo nos transforma em pessoas que Deus quer que sejamos. O amor de Cristo nos capacita a amar. Somos capacitados pelo amor de Deus a amar os outros do mesmo modo como fomos amados por Deus.
Que possamos ter em nossas vidas as marcas do verdadeiro amor. Para a glória de Deus. Amém.