TRÊS ATITUDES QUE SUSTENTAM A MUTUALIDADE
Pr Luciano R. Peterlevitz – Igreja Batista Bela Vista, 30.06.2019.
Introdução
Outro dia alguém me disse: “A vida está tão difícil, que mesmo os pequenos favores se tornam um fardo”. É verdade. Aparentemente está cada vez mais difícil fazer favores a outros. Mas, será que a razão disso é que a vida está mais difícil? A vida não era difícil na época de Jesus e dos apóstolos? Certamente era. Minha conclusão: a principal razão porque está cada vez mais difícil ajudar o outro não é porque nossa vida está mais difícil, mas sim, porque nosso amor tem diminuído e nosso egoísmo tem aumentado. Simplesmente por isso.
Ao longo das últimas mensagens, refletimos sobre a importância da mutualidade. Fomos desafiados pela Palavra de Deus para vivermos o princípio do uns aos outros, tão claramente ensinado no Novo Testamento.
Nas últimas sete semanas, fomos instigados a buscar a mutualidade. Agora, se começamos a praticar o uns aos outros (se é que começamos!), precisaremos nos empenhar para manter essa prática. Hoje, encerrando nossa série de mensagens, vamos refletir em três atitudes que sustentam a mutualidade:
- Sujeitai-vos uns aos outros e sejam todos humildes uns para com os outros: 1Pe 5.5;Ef 5:21
- Sede servos uns dos outros: Gl 5:13; Jo 13:14;
- Acolhei-vos uns aos outros: Rm 15:7;
Conforme veremos, essas atitudes (sujeição/humildade, serviço e acolhimento) estão relacionadas umas com as outras. Todas essas atitudes têm Cristo como referencial. Em sua jornada aqui na terra, Jesus abriu mão de sua glória e sujeitou-se a Deus e aos homens (submeteu-se à morte, para que o plano perfeito de salvação se cumprisse), e humilhou-se a si mesmo, indo à cruz por nós; Ele veio para servir, e não para ser servido; Ele acolheu aos fracos e necessitados.
Para viver a mutualidade, precisamos fazer a seguinte oração: “Deus, forme em nós o caráter de Cristo”. Não é uma oração fácil de fazer.
1ª)Sujeitem-se uns aos outros e sejam todos humildes uns para com os outros
1Pedro 5.5-6:
5 Da mesma forma jovens, sujeitem-se aos mais velhos. Sejam todos humildes uns para com os outros, porque “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes”. 6 Portanto, humilhem-se debaixo da poderosa mão de Deus, para que ele os exalte no tempo devido. (NVI).
Sujeição e humildade são duas atitudes apresentadas em 1Pedro 5.5-6. São duas atitudes, mas analisaremos como se fosse uma só atitude.
Os jovens precisam ser submissos aos mais velhos. Infelizmente, hoje existe muito descaso e desrespeito às pessoas de cabelos brancos.
A submissão não é só uma atitude dos jovens para com os mais velhos. Na verdade, é uma atitude que todo cristão precisar ter. Em Efésios 5.21, a Escritura afirma que todos os cristãos precisam se sujeitar uns aos outros no temor de Cristo.
Pedro também diz: “Sejam todos humildes uns para com os outros”. A ARA traduz: “no trato de uns com os outros, cingi-vos todos de humildade”. O Léxico Strong fornece a seguinte explicação para o verbo “amarrar ou cingir-se”:
Larga tira de pano branco ou avental usado pelos escravos, atados à vestimenta por um cinto. Diferenciava os escravos de pessoas livres. Daí, em 1Pe 5.5, “cingi-vos todos de humildade” significa que revestir-se de humildade implica em sujeitar-se uns aos outros. A palavra também se refere ao sobretudo que os escravos usavam para manter-se limpo enquanto trabalhavam, uma veste excessivamente humilde.
Uma das principais razões porque os relacionamentos se quebram e continuam quebrados é a falta de humildade. Eis algumas atitudes que demonstram falta de humildade: achar que estou aqui para ser servido, e não para servir; achar que sou melhor do que o outro; achar que minha opinião é sempre melhor do que a do outro; achar que o outro não precisa ser ouvido; achar que o outro sempre precisa atender meus desejos; achar que o outro não merece meu perdão; etc.
Eis a razão porque precisamos ser humildes no trato uns com os outros: porque “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes”. Pedro está referindo-se a Provérbios 3.34: “Ele zomba dos zombadores, mas concede graça aos humildes”.
A graça de Deus jamais poderá ser derramada sobre aqueles que sobem num pedestal. Só aqueles que descem, é que podem subir. Só aqueles que se humilham, é que podem ter acesso ao trono da graça de Deus.
Talvez você já perguntou: “porque Deus não faz isso ou aquilo na minha vida?”. Meu estimado irmão ou minha estimada irmã, você já pensou na possibilidade de Deus ter encolhido o seu braço gracioso para você simplesmente porque você se recusa a abrir mão do seu orgulho?
Ouçamos o que a Palavra nos diz: “Portanto, humilhem-se debaixo da poderosa mão de Deus, para que ele os exalte no tempo devido”.
Voltemos à ordem no início do verso 5:“sujeitem-se” (1Pe 5.5). Em Efésios 5.21, o apóstolo Paulo ordena: “sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo”. Sujeitar-se uns aos outros? Como assim? Como podemos praticar essa ordenança da Palavra? A resposta está abaixo: sendo servos uns dos outros.
2ª) Sede servos uns dos outros
Esse é o lema do meio evangélico de hoje: “venha e receba”. Em contrapartida, o lema de Jesus é: “venha e sirva”.
Muitos ministros hoje querem títulos. Já ouvi falar de vários títulos: “Apóstolo”; “Bispo”. “Patriarca”. Até mesmo “Rei”.
As pessoas querem ser servidas, mas quem quer servir?
Cristo se tornou “servo”: “antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana” (Fl 2.7).
Paulo se apresentava como servo: “Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo…” (Rm 1.1)
“Servo“, do original grego, é doulos, melhor traduzido como “escravo”.
Escravo. Uma palavra muito forte, não acha? Sim. Mas é exatamente isso que somos: escravos de Cristo.
Preste atenção: você necessariamente é escravo. Quer queira, quer não, quer esteja consciente disso, ou não, você sempre será escravo de algo ou alguém. Muitos são escravos e nem sabem! Escravo é aquele que serve alguém ou algo. Escravo obedece. O escravo é aquele cuja vida está completamente voltada para satisfazer os desejos de alguém. Se você não for escravo de Cristo, então você será escravo ou de si mesmo, ou dos outros (mundo), ou do diabo. Espero que você decida ser escravo de Cristo. Se nosso “senhor” é um carrasco, um opressor, então isso trará maldição sobre a nossa vida. Mas se nosso Senhor é amoroso, quer o nosso bem, morreu por nós para trazer vida plena, então a sujeição a Ele nos trará maravilhosas bênçãos.
Saiba disso: Inevitavelmente você terá um senhor. Resta saber, se esse senhor é um opressor (mundo, o diabo ou suas próprias paixões) ou é o Senhor Libertador. Decida, hoje, ser escravo Daquele que entregou sua vida por você. Deixe Ele cumprir em sua vida o vontade boa, perfeita e agradável.
Escolha, hoje, de quem você será escravo.
Agora a questão é: como servimos a Deus? A resposta é simples: servindo uns aos outros.
Gálatas 5: “13 Irmãos, vocês foram chamados para a liberdade. Mas não usem a liberdade para dar ocasião à vontade da carne; pelo contrário, sirvam uns aos outros mediante o amor. 14 Toda a lei se resume num só mandamento: “Ame o seu próximo como a si mesmo”. 15 Mas se vocês se mordem e se devoram uns aos outros, cuidado para não se destruírem mutuamente.” (NVI).
Muitos dizem: “eu quero servir a Deus”. Mas, quantos querem servir o outro? Lembremos que aqueles que dizem servir a Deus, mas não servem o outro, na verdade, não estão servindo a Deus. Dizem que servem a Deus, mas no fundo simplesmente servem aos seus próprios interesses.
É impossível servir a Deus sem servir as pessoas.
Jesus ensinou que, quando fazemos alguma coisa boa a algum dos irmãos, na verdade estamos fazendo para Ele, e quando deixamos de fazer alguma coisa boa para nossos irmãos, na verdade, estamos deixando de fazer para Ele (Mt 25.31-46).
Existem várias maneiras de servir:
– Socorrer o outro em suas necessidades;
– Orar junto com o outro;
– Abrir a porta para o outro;
– Limpar alguma sujeira que o outro fez, ou pegar algum lixo que o outro jogou;
– Ser gentil no trânsito, deixando o outro veículo ultrapassar, ou dando preferência para o outro veículo, ou ainda deixando o pedestre atravessar.
3ª) Acolhei-vos uns aos outros
Romanos 15.7: “Portanto, acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo nos acolheu para a glória de Deus.”
Dificilmente conseguiremos cumprir a ordem desse versículo, se não abrirmos mão de nosso orgulho e se não tivermos a atitude de servo. A ordem “acolhei-vos uns aos outros” só poderá ser obedecida se as outras ordensanalisadas anteriormenteforem cumpridas (“sujeitem-se uns aos outros”e “sejam todos humildes uns para com os outros”; “sede servos uns dos outros”).
Isso porque, para acolher uns aos outros, não podemos agradar a nós mesmos, como explica os versos iniciais de Romanos 15 (veja versos 1-3).
Acolher significa integrar. É uma atitude que permite o outro ser bem recebido, bem acolhido, e, consequentemente, ser integrado na comunidade.
Prestemos atenção o que diz o pastor Israel Belo de Azevedo, no livro Gente cansada de Igreja:
“Não devemos ser acolhedores para ‘ganhar’ as pessoas. Devemos ser acolhedores porque gostamos das pessoas. Como demonstrou uma pesquisa feita com 1.000 igrejas em 32 países dos cinco continentes, as comunidades tendem a se achar o máximo neste quesito. Segundo os autores, em muitas igrejas se formam ‘panelinhas’, que são consideradas muito agradáveis pelos participantes. No entanto, esses cristãos não percebem as dificuldades que pessoas de fora têm para conseguir acesso a esses grupos. (…) Faça sua parte para que todos os que vierem a entrar na sua comunidade cristã sejam acolhidos e integrados. Se você for uma pessoa acolhedora, sua igreja também o será” (AZEVEDO, Israel Belo. Gente cansada de Igreja. São Paulo: Hagnos, 2010, pp. 58-59).
Precisamos ser como Barnabé, o Zé da Consolação (At 4.36; o nome “Barnabé” significa “filho da consolação”). O Zé acolheu e integrou Paulo na igreja de Jerusalém (At 9.26-27).
Será que você consegue identificar se há pessoas que estão deslocadas e isoladas aqui em nossa igreja? Quando você percebe que alguém está um pouco isolado, você se aproxima e procura integrar essa pessoa?
Sejamos como Barnabé.
Conclusão
Se Jesus voltasse hoje, o que Ele diria para cada um de nós? Será que cada um de nós ouviríamos essas palavras: “Muito bem, servo bom e fiel…entra no gozo do teu senhor” (Mt 25.21)?
São essas palavras que um dia desejamos ouvir do nosso Senhor? Então, vivamos o uns aos outros. Busquemos e pratiquemos a mutualidade. “Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça o que o Espírito diz às igrejas”. Amém.