CONSOLEM E EDIFIQUEM-SEUNS AOS OUTROS

Postado em 1 de fevereiro de 2021 por

Categorias: Pregações

Pr Luciano R. Peterlevitz, Primeira Igreja Batista de Sumaré, 31.01.2021 (noite)

TEXTO BÍBLICO: “Portanto, consolem uns aos outros e edifiquem-se mutuamente, como vocês têm feito até agora”. 1 Tessalonicenses 5:11 (NAA).

Introdução

Há mais de dois mil anos atrás, Jesus predisse que no final dos tempos o amor de muitos iria se esfriar (Mt 24.21). E será que não é isso que está acontecendo em nossos dias? As pessoas estão cada vez menos preocupadas umas com as outras. E para piorar a situação, o amor dos cristãos também está se esfriando.

Entretanto, na contramão do esfriamento do amor de muitos, a Igreja é uma comunidade de acolhimento mútuo. Isso significa que precisamos cuidar uns aos outros.

Lembremos da pergunta que o Senhor fez a Caim: “Onde está seu irmão Abel?” (Gn 4.9). A resposta dele talvez tem sido a resposta de muitos de nós: “Não sei; sou eu o responsável por meu irmão?” (Gn 4.9).

O contexto de 1Ts 5.11

No início do verso 11, há uma conjunção “pois”, demonstrando que esse verso é a conclusão da argumentação desenvolvida nos versos anteriores. A argumentação se iniciou em 4.13, e se estende até 5.10. O assunto desenvolvido em 4.13 – 5.10 é a ressurreição dos mortos e a segunda vinda do Senhor Jesus.

“Paulo encerra essa seção com a aplicação práticas das escrituras proféticas: encorajamento e edificação. O fato de que iremos nos encontrar novamente com os nossos entes queridos e de que viveremos com o Senhor para sempre deve ser motivo de ânimo (1 Ts 4:18); e o fato de que não teremos de sofrer a ira de Deus no Dia do Senhor é outra fonte de encorajamento (1 Ts 5:11).”[1]

Jesus está voltando, mas muitos crentes estão dormindo (veja 1Ts 5.6,7). Precisamos dizer uns aos outros: “Acorda!”.

Uns aos outros e mutuamente

Precisamos nos atentar a duas expressões aqui em 1Ts 5.11: “uns aos outros” e “mutuamente”.

Mutualidade: reciprocidade, troca, contribuição coletiva para benefício de cada um dos membros. O que trocamos uns com os outros? Só vírus?

Certa vez li a seguinte definição de mutualidade (não me lembro a fonte): “O termo mutualidade se refere às expressões recíprocas, ou seja, àquelas frases do N.T. onde aparecem às palavras uns aos outros. Descrevem situações em que o cristão A faz algo pelo cristão B; e o B, por sua vez, se dispõe a fazer a mesma coisa em favor do irmão A”.

A mutualidade é a prática da comunhão. Tenho comunhão com o outro quando participo da vida do outro. A comunhão se torna uma realidade quando vivenciamos o “uns aos outros”.

Há uma questão que precisamos refletir seriamente: será que o isolamento social não tem contribuído para o esfriamento do amor?

Fato é que podemos participar da vida uns dos outros, mesmo com as restrições da pandemia. Há várias formas de se fazer isso: orando uns pelos outros, ajudando uns aos outros, oferecendo ajuda àqueles que estão necessitados, orando ao telefone com aqueles que estão enfermos ou em isolamento social, etc.

Hoje vamos pensar em dois mandamentos da mutualidade:

  1. Consolem uns aos outros: 1Ts 5:11; 1Ts 4.18; Hb 3:13; 10:25.
  2. Edifiquem uns aos outros: 1Ts 5.11; Rm 14.19; Jd 20.

O consolo mútuo

“…consolem uns aos outros…”.

O verbo “consolar”, utilizado em 1Ts 4.18 e 5.11, é ogrego parakaleo; às vezes é traduzido como “exortar” ou “admoestar”. Assim traduz a NVI: “Por isso, exortem-se e edifiquem-se uns aos outros, como de fato vocês estão fazendo.” (1Ts 5.11).

A tradução da NVI não é errada, desde que o termo “exortar” seja devidamente compreendido. Pois muitos acham que exortar é dar bronca (como a bronca que os jovens e adolescentes levam em retiros).

Parakaleo significa “chamar para o (meu) lado, chamar, convocar”. Parákletos significa: “estar ao lado de alguém, ser companheiro, parceiro, ser conselheiro, ser consolador”. É o mesmo termo aplicado ao Espírito Santo, oParakletos, o “Consolador” (Jo 14.16).

Parakaleosignifica encorajar, consolar.

Como podemos consolar / encorajar?

Veja Jó 2.11-13. Prestemos atenção na atuação dos amigos de Jó:

  • Quando ouviram falar do estado calamitoso de Jó, saíram de onde estavam, e foram onde Jó estava. Estamos dispostos a sair de onde estamos, para irmos ao encontro daqueles que estão sofrendo?
  • Jo 2.11b: “Tinham combinado ir juntos condoer-se dele e consolá-lo.” A tradução da Bíblia de Jerusalém é muito boa: “reuniram-se para ir compartilhar a sua dor e consolá-lo”. Nesse ponto, precisamos responder sinceramente a esta pergunta: somos compassivos uns com os outros? “Demonstrar compaixão” significa “literalmente “ter o mesmo sentimento”.[2] Ter compaixão é a capacidade de introduzir-se no sofrimento do outro, sentir a dor do sofredor.
  • Quando sentimos a dor do outro, inevitavelmente choraremos com o outro. Foi isso que os amigos de Jó fizeram. Eles choraram junto com Jó, e manifestaram luto (Jó 2.12).
  • Ficaram em silêncio ao lado de Jó, por sete dias (Jó 2.13). Davi Furman, no livro Lado aLado, afirma corretamente: “Há um tipo de ministério que não se utiliza de palavras. É simplesmente estar ao lado. Certamente a Escritura é o melhor bálsamo para a alma de alguém (…), mas há momentos em que tudo que se precisa fazer (talvez por vários dias) é simplesmente sentar-se em silêncio com alguém”.[3]

Seja você um consolador de vidas!

A edificação mútua

“…e edifiquem-se mutuamente, como vocês têm feito até agora”.

O verbo “edificar” é a tradução do grego oikodomeo, literalmente “construir uma casa”. As casas que precisamos construir são vidas.

Há “casas” que estão danificadas, algumas com grandes rachaduras; outras precisando de uma pintura. Não é este o estado de muitas vidas? Rachadas, quebradas, danificadas…

Mas Deus quer levantar você para ser instrumento de edificação e restauração.

Sabia que você é responsável pelo crescimento do seu irmão? Podemos achar, equivocadamente, que não temos nada a ver com o fortalecimento da fé do outro. Mas a Bíblia diz: “edifiquem-se mutuamente”. Sim, somos responsáveis pelo crescimento espiritual uns dos outros!

Somos chamados para sermos construtores de vidas.

Para que o Corpo de Cristo seja edificado, é necessário a justa cooperação de cada parte (Ef 4.16,17).

Uma grande obra se faz com a cooperação de vários profissionais: engenheiros, arquitetos, mestres de obras, serventes e outros mais. Do mesmo modo, a obra do Reino necessita da justa cooperação de todos os crentes. Cada um de nós somos construtores de vidas. Edificamos, e somos edificados. Precisamos edificar, e precisamos ser edificados.

“Nenhum homem é suficientemente forte para manter-se firme sozinho, mas antes, precisa de outros; e a vida espiritual é uma ‘vida em comunidade’, e não meramente a busca individual por Deus”.[4]

Ouçamos a recomendação de Romanos 14.19: “Assim, pois, seguimos as coisas da paz e também as da edificação de uns para com os outros.”

Que todas as nossas ações e palavras possam edificar a igreja.

No final do verso (1Ts 5.11), Paulo diz: “como também estais fazendo”. Os crentes da igreja de Tessalônica já estavam consolando e edificando uns aos outros. Deveriam continuar. E nós, já estamos fazendo isso?

Conclusão

Não sejamos como Caim, que achava que não era responsável por seu irmão. Somos sim responsáveis uns pelos outros!

Sejamos agentes do consolo de Deus. Sejamos construtores de vidas.


[1]WIERSBE, W. Warren. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento: Vol. 2. Santo André: Geográfica editora, 2006, p. 241.

[2] FURMAN, Dave. Lado a lado: Como amar aqueles que estão sofrendo. São José dos Campos: FIEL, 2017, p. 65.

[3] FURMAN, Dave. Lado a lado: Como amar aqueles que estão sofrendo. São José dos Campos: FIEL, 2017, p. 65.

[4]CHAMPLIN, Russel Norman. O Novo Testamento Interpretado: versículo por versículo. Vol. 5, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito, Filemom, Hebreus. São Paulo: Milenium, 1980, p. 214.