PECADORES PERDOADOS E PERDOADORES
Pr Luciano R. Peterlevitz, mensagem pregada na Primeira Igreja Batista de Sumaré, em 10.03.2021 (noite).
TEXTO: Colossenses 3.13: Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós.
Introdução
A falta de perdão destrói vidas. Famílias estão sendo destruídas pela falta de perdão. Relacionamentos entre pais e filhos, entre esposa e esposo, desfeitos. Igrejas estão sendo destruídas pela falta de perdão. O lugar de trabalho de muitas pessoas torna-se um inferno, por causa da falta de perdão. Enfim, vidas estão sendo destruídas pela falta de perdão.
Pessoas que guardam amargura no coração se tornam pessoas amarguradas (amarguradas com os outros; amarguradas com Deus; amarguradas consigo mesmas; amarguradas com a vida).
Somos o povo mais perdoado do mundo. Mas será que somos o povo mais perdoador do mundo?
Precisamos entender que a ofensa que recebemos faz parte do propósito de Deus em nossas vidas, pois Ele quer que demonstremos amor e misericórdia para outros do mesmo modo como recebemos Dele.
Podemos fazer três afirmações sobre o perdão, a partir deColossenses 3.13.
1. Somos pecadores perdoados
“Assim como o Senhor vos perdoou.” Para compreendermos a profundidade do perdão de Deus, precisamos entender a gravidade de nossa ofensa contra Ele. A Bíblia não faz rodeios quando diz o que somos diante aos olhos do Deus Santo: pecadores que merecem o inferno. Não podemos distorcer o que Deus diz sobre o que somos sem a cruz de Cristo. Somos completamente corrompidos.
Infelizmente o ser humano inventou uma nova versão daquilo que Deus diz sobre pecado. Parece que pecado não tão sério assim, e o homem no fundo é bom o suficiente. Isso é uma perversão daquilo que a Bíblia ensina sobre nós, pecadores. É outra versão, diferente daquela revelada nas Escrituras. É uma versão ‘revista e atualizada’.
Veja 1Jo 1.8: “Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós”.
Heresia: achar que somos bons aos olhos de Deus. Neste caso, “a verdade não está em nós”.
Paulo dizia: “eu sou o pior dos pecadores”. Quer encontrar o pior dos pecadores? Então olhe-se no espelho.
Todos pecaram. Todos merecem o juízo eterno. Mas, pela graça de Deus, fomos salvos. As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos.
Por mais que nós achamos terrível alguma ofensa cometida contra nós, nenhuma destas ofensas será tão grave como a ofensa que cometemos contra o Deus Santo.
2. Pecadores perdoados perdoam
“Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós.”
Neste ponto, nós precisamos lembrar da parábola do credor incompassivo: Mateus 18.21-35.
A dívida do servo: 10 mil talentos.
900 talentos: era a quantia de impostos que Herodes, o Grande, recebia de todo o reino. Ou seja, 10 mil talentos era impagável.
A dívida do conservo do servo: 100 denários.
01 talento corresponde a 6.000 denários.
Assim 10 mil talentos são 60 milhões de denários. Dez mil talentos é seiscentas mil vezes mais que cem denários.
A dívida do servo ao seu senhor era equivale a 165 mil anos de trabalho. Já a outra dívida, a do conservo ao servo, era insignificante: cem denários, equivalente a cem dias de trabalho.
Na moeda brasileira, a dívida do servo ao senhor corresponde a aproximadamente 5 bilhões e 800 milhões de reais. Ganhando cem reais por dia, a pessoa precisaria trabalhar 165 mil anos de trabalho, ininterruptamente.
Mateus 18.33: “não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti?”
Deus nos perdoa completamente. Ele se esquece das nossas iniquidades. Não se trata de aminésia divina. Antes, isso significa que,quando nos arrependemos do nosso pecado e imploramos por Seu perdão, o Senhor consciente e ativamente decidi não mais considerar aquela ofensa praticada contra Ele. Do mesmo modo, quando perdoamos, enterramos o passado, e nunca mais trazemos de volta a ofensa praticada contra a gente.
Deus nos perdoa de todos os nossos pecados. Por isso podemos perdoar qualquer ofensa, mesmo as mais graves.
Deus nos perdoa, não importaquantas vezes erremos. Por isso, Jesus diz que devemos perdoar setenta vezes sete (Mateus 18.21-22). O número sete é simbólico. Significa perfeição e infinitude (sem limites). Assim também precisa ser nosso perdão. Infinito, sem limites. Perfeito. Mas, como isso é possível? Será que temos condições de conceder um perdão infinito e perfeito. A resposta da Palavra de Deus é um veemente SIM. Isso porque já recebemos o perdão pleno do Senhor. Agora, capacitados por esse perdão, através do Espírito Santo que derrama o amor de Deus em nosso coração (Rm 5.5), podemos perdoar plenamente aqueles que nos ofenderam.
Então, de acordo com as Escrituras, se você tem dificuldades para perdoar, é porque você não entendeu o perdão de Deus ou não o recebeu verdadeiramente.
Outro ponto muito importante: Deus nos perdoa, isso significa que Ele nos reconcilia consigo mesmo. O perdão conduz ao reestabelecimento da relação. Deus não somente anulou as nossas ofensas e dívidas, como também nos traz para perto de Si, e estabelece conosco uma relação através de Cristo Jesus. Perdão sem reestabelecimento da relação não é perdão.
Algumas pessoas dizem: “Eu perdoo, mas não quero conversa com aquela pessoa”, ou “eu não tenho nada contra ela, mas só não quero mas vê-la”. Essas pessoas não perdoaram verdadeiramente. O verdadeiro perdão reestabelece relacionamentos!
E o verdadeiro perdão não guarda ofensa no coração. “Perdoai, e sereis perdoados”, disse Jesus (Lc 6.37). O verbo grego utilizado neste texto é apolou, “libertar”, “despedir”, “deixar ir”. Quando somos ofendidos, temos duas opções: ou guardamos a ofensa para nós mesmos, ou liberamos o perdão. Perdoar é despedir a ofensa e mandá-la embora. E quando liberamos perdão, libertarmos a nossa própria alma.
A falta de misericórdia é o veneno que bebemos achando que estamos matando os outros.
*Ilustração: Hernandes Dias Lopes: a notícia da morte do seu irmão. “Perdoava ou adoecia.”
3. Pecadores perdoados pedem perdão
O perdão é mútuo. É bilateral: o perdão envolve o ato de pedir perdão e o ato de perdoar.
O ato de pedir perdão é fundamental para que uma relação seja reestabelecida.
Como diz o Pr Israel Belo de Azevedo, muitas vezes usamos erroneamente o verbo “desculpar”. “Desculpar-se é pedir a alguém que lhe tire a culpa”, diz o Pr Israel. Ou, talvez usamos o verbo desculpar para disfarçar o nosso erro. Neste caso, desculpar-se não é perdão. Como o próprio verbo diz, “desculpar-se” é um desculpa esfarrapada para o erro cometido. Pedimos desculpa:
- Quando usamos a partícula condicional “se”: “desculpe se errei”.
- Quando usamos a preposição adversativa “mas”: “desculpe, mas qualquer um faria o mesmo”, ou “desculpe, mas você faria o mesmo” (além de não reconhecer o erro, o ofensor joga a culpa sobre o ofendido).
- Quando culpamos a situação: “desculpe, mas estava muito estressado”;
- Quando bancamos o inocente: “desculpe, mas não tive a intenção de machucá-lo”.
A Bíblia fala de confissão (1Jo 1.9). Não fala de desculpas. Assim como devemos confessar os nossos pecados para Deus, também devemos confessar nossos àqueles que ferimos, suplicando-lhes pelo perdão.
Conclusão
Somos pecadores perdoados. Pecadores perdoados perdoam. Pecadores perdoados pedem perdão.
Há muita gente sofrendo pela falta de perdão. Há pais que morrem sem pedir perdão para os filhos. Há pessoas que convivem com a amargura a vida toda. Há pessoas que levam a falta de perdão para túmulo.
Talvez hoje você esteja convivendo com a amargura e o rancor. Você confiou em alguém, e essa pessoa decepcionou você? Alguém humilhou você? Alguém traiu você? Alguém feriu você? Então a Palavra de Deus ordena: perdoe, como você foi perdoado por Deus em Cristo Jesus.
Você precisa perdoar alguém? Então, diante de Deus, faça quatro promessas para seu ofensor (sugeridas por Ken Sande):
- Eu não vou pensar mais no ocorrido.
- Eu não vou mais mencionar o que aconteceu e usá-lo contra você.
- Eu não vou falar para as outras pessoas sobre a ofensa.
- Eu não vou permitir que o ocorrido fique entre nós ou que prejudique o nosso relacionamento pessoal.