A SUPERIORIDADE DE CRISTO
Pr Luciano R. Peterlevitz
Hebreus 1.1-3:
1 Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, 2 nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. 3 Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas.
Introdução
Esse é o tema da epístola aos Hebreus: a superioridade do Filho de Deus.
O autor (desconhecido) aos Hebreus destaca a superioridade de Cristo em relação aos anjos,aos profetas do Antigo Testamento, a Moises e aos sacrifícios oferecidos pelos sacerdotes da antiga aliança.
Nesses versos iniciais (1.1-3) o autor apresenta o tema que será desenvolvido ao longo da epístola.
Data: a carta aos Hebreus foi escrita por volta do ano 68, pouco antes da queda de Jerusalém ocorrida no ano 70.
Objetivo da carta: estimular os judeus cristãos (perseguidos por outros judeus) a continuarem firmes na fé em Cristo. No contexto da perseguição engendrada pelas elites judaicas, muitos judeus cristãos estavam sendo tentados a abandonar a fé em Cristo e a retroceder ao judaísmo.
O autor aos Hebreus, então, mostra que a obra de Cristo é superior aos sacrifícios e aos personagens do Antigo Testamento.O termo “superior” é usado treze vezes nessa epístola. Jesus, o Filho de Deus, é superior a todos os rituais da antiga aliança. As festas e os sacrifícios do Antigo Testamento eram apenas sombras da realidade encontrada em Cristo. Indiretamente Hebreus faz as seguintes perguntas aos seus leitores judeus: por que voltar às sombras, se temos diante de nós a realidade? Por que voltar aos sacrifícios mosaicos, se Cristo já ofereceu o sacrífico definitivo capaz de purificar todos os nossos pecados?
A carta aos Hebreus é fundamental para compreendermos a Pessoa e a obra de Cristo. Lamentavelmente os púlpitos evangélicos não centralizam Cristo. Infelizmente o que vemos hoje não é uma mensagem cristocêntrica (Cristo no centro), mas sim uma mensagem antropocêntrica (o homem no centro).
Jesus Cristo é a única esperança. Se Ele não for o foco das nossas mensagens, então não há mais esperança. Estamos perdidos. Mas graças a Deus, porque podemos voltar nossos olhos a Palavra viva e eficaz, e podemos encontrar esperança viva em Cristo. Cristo trouxe uma “esperança superior” (Hb 7:19).
Hb 8:6:“Mas, de fato, Jesus foi encarregado de um serviço sacerdotal que é superior ao dos sacerdotes. Pois a aliança que ele conseguiu é melhor porque ela se baseia em promessas de coisas melhores”. (NTLH).
Em relação a todos os personagens do Antigo Testamento e em relação a todo o sistema ritualístico da antiga aliança, o Filho de Deus é superior pelo menos em três aspectos: A revelação pelo Filho é superior, a Pessoa do Filho é superior, e o sacrifício do Filho é superior.
A revelação pelo Filho é superior: v.1,2
O v.1 destaca a revelação de Deus no Antigo Testamento pelos profetas. Deus falou “muitas vezes”. Hoje, Deus fala muitas vezes com a gente. Temos ouvido sua voz?
Deus falou de “muitas maneiras”, através de sonhos, visões, símbolos proféticos, teofanias (manifestações divinas, como aquela que Deus apareceu para Moisés numa chama de fogo, no meio de uma sarça – Êx 3).
Se no Antigo Testamento Deus falou “muitas vezes e de muitas maneiras”, agora “nestes últimos dias, nos falou pelo Filho” (v.2), de forma final e definitiva.
“nestes últimos dias”. No Antigo Testamento, a expressão “últimos dias” refere-se ao tempo da vinda do Messias. Os “últimos dias” iniciaram-se com a morte de Cristo, e terminarão com sua Segunda Vinda.
“nos falou pelo Filho”. No Antigo Testamento, Deus falou pelos profetas. Os profetas diziam “assim diz o Senhor”. Traziam a Palavra de Deus aos homens. Agora, nos “últimos dias”, a própria Palavra se encarnou. Cristo é o Verbo (Jo 1.14), a Palavra encarnada, a revelação última e definitiva de Deus.
A revelação em Cristo é a verdade completa e final para o ser humano. Nada mais precisa ser acrescentado.
“Cristo é afonte, o centro e o fim de tudo o que Deus tem para dizer”. (Warren W. Wiersbe).
Cristo é página final da revelação de Deus. Olhe sua Bíblia, e verá que ela tem uma última página. Ela está pronta, terminada. Isso nos basta. Não precisamos de mais páginas. Não estamos autorizados a acrescentar novas revelações.
À luz destas constatações, podemos fazer duas aplicações:
1) Não cremos em novas revelações. Tudo o que Deus queria revelar, já revelou nas Escrituras, pelos profetas e por Cristo (os apóstolos registraram os ensinos de Cristo).
As seitas sempre surgem em torno de um líder que afirma ter uma nova revelação.
Muitas pessoas buscam novas revelações, sonhos, mistérios, coisas especulares. Não conseguimos nem praticar o que está claramente ensinado nas Escrituras, e ainda queremos novas revelações? Nas Escrituras, Deus nos revela sua vontade de forma clara e objetiva, mas as pessoas sempre querem um “algo” a mais.Entretanto, não precisamos de algo além das verdades já reveladas por Deus nas Escrituras.
2) Não precisamos das práticas judaicas. Algumas igrejas evangélicas entronizam a arca da aliança. Outras celebram festas judaicas (festa das primícias). Até o “Templo de Salomão” foi construído! Porém, de acordo com Hebreus, as práticas judaicas do antiga aliança, incluindo o templo e as festas, eram tipos da obra consumada de Cristo. Eram sombras da realidade encontrada em Jesus. Se hoje temos a realidade, porque voltar à sombra?
A Pessoa do Filho é superior: v.2,3
O Filho é maior do que todos os personagens da Bíblia.
Quem é Jesus? O maior mestre que já existiu? O maior líder de todos? O maior psicólogo dentre todos os psicólogos? Um grande profeta? Um homem que andou entre nós fazendo o bem? Ele é muito mais do que tudo isso.
O Filho é o “herdeiro de todas as coisas” (v.2). Tudo lhe pertence, porque Ele é o Criador de todas as coisas. O Filho é o criador do “universo”. Este termo, “universo”, é a tradução do grego aion, que “envolve todos os acontecimentos desde a criaçãodeste mundo. Refere-se ao mundo e à sua história através dos tempos”.[1]
Cl 1.16b-17: “Tudo foi criado por meio dele e para ele. 17 Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste”.
Guthrie diz que aquele que andou entre os homens é o criador dos homens.
“Ele, que é o resplendor da Sua glória” (v.3). Cristo é a manifestação de Deus. Assim como os raios da luz do sol possibilita vida à terra, assim Jesus Cristo é a luz gloriosa de Deus brilhando aos homens.
Jo 1:14: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai”.
“Quem me vê a mim vê o Pai”, disse o próprio Jesus (Jo 14.9).
Cristo é a “expressão exata do seu ser” (v.3), ou seja, o Filho tem a mesma natureza do Pai. O termo “expressão exata” (gr. charakter) era utilizado no mundo antigo para se referir a moedas cunhadas que levavam a imagem de um soberano ou imperador. Refere-se a uma reprodução precisa do original. Cristo é a expressão exata do Ser de Deus.
Jesus não é uma cópia de Deus, mas sim,possui plenamente a natureza divina. Ele não é parecido com Deus. Ele é Deus. Cl 2:9: “porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade”.
“sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder” (v.3). Deus criou o mundo por sua palavra (Gn 1). Quando Deus fala, o caos desaparece, e surge o mundo organizado. Todas as coisas foram criadas através de Cristo, “e, sem ele, nada do que foi feito se fez” (Jo 1.3).
Cristo não só criou todas as coisas pela palavra, mas também mantém todas as coisas pela palavra do seu poder.
“Sustentando”. O termo (gr. phero) significa “apoiar, manter”. O verbo é usado aqui no tempo presente, o que implica uma ação contínua. No presente momento, “todas as coisas” (tudo o que existe) são sustentadas por Jesus Cristo. O Filho não só é o Criador de todo o Universo. Ele é também o Sustentador de todo o Universo.
Se, por um momento, Cristo deixasse de ser o Sustentar de todas as coisas, o Universo entraria em colapso. Tudo se desintegraria. Existe uma perfeita harmonia no mundo criado. Por exemplo: o sol está a cerca 150 milhões de km da Terra. Se o sol fosse mais perto da Terra, tudo aqui iria queimar-se; se fosse um pouquinho mais longe, tudo iria congelar. Nosso mundo está inclinado em um ângulo exato de 23 graus, proporcionando-nos quatro estações.
Toda essa harmonia cósmica existe porque Cristo é o Sustentador do Universo.
Todos os planetas e todas as estrelas estão nas mãos de Cristo. Pense um pouco. O sol é muito maior do que a Terra. Caberiam cerca de um milhão de Terras dentro do Sol. Apesar de sua grandeza, existem outras estrelas muito maiores do que o Sol. A VY Canis Majoris, a maior estrela já descoberta, é 2.100 vezes maior que o Sol.
E tudo isso é sustentado pela palavra do poder de Cristo!
A astrologia acredita que as estrelas determinam nosso destino. Entretanto, segundo a Bíblia, não são as estrelas, mas Aquele que criou as estrelas é que determina nosso destino.
“O Universo inteiro está pendurado no braço de Jesus”. (MacArthur).
Quando Jesus fala, as tempestades se acalmam. Ele manda nos ventos. Ele sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder. Nossas vidas não estão à deriva em um oceano caótico. Nossas vidas estão nas mãos do Senhor Todo-Poderoso que sustenta todas coisas, Aquele que faz com que todas as coisas cooperem para bem daqueles que amam a Deus.
Se o Filho sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder, se Ele segura o sol, se Ele segura a grandiosa estrela VY Canis Majoris pela palavra do seu poder, você acha que Ele não segura sua vida também?
Há uma estória bastante conhecida. Certa vez, alguém sonhou que estava na praia com o Senhor e através do Céu passavam cenas de sua vida. Para cada cena que passava, eram deixados dois pares de pegadas na areia; um par era daquela pessoa, e o outro, do Senhor. Aquela pessoa notou algo: nos momentos mais difíceis de sua vida, havia só um par de pegadas. Diante disso, esbravejou ao Senhor, indagando: “O Senhor prometeu que sempre andaria comigo, porém, nos momentos de maior sofrimento, só vi um par de pegadas, as minhas. Por que o Senhor me abandonou nesses momentos angustiantes?”. A resposta foi: “Meu querido filho. Jamais te deixaria nas horas de prova e de sofrimento. Quando vistes na areia, só um par de pegadas, eram as minhas. Foi exatamente aí que eu te carreguei em meus braços”.
Entretanto, considerando que Cristo sustenta constantemente todas as coisas, incluindo nossas vidas, podemos dizer que sempre haverá um par de pegadas na areia, porque, na verdade, não há um momento sequer que o Senhor deixa de nos carregar em seus braços.
A revelação do Filho é superior. A Pessoa do Filho é superior. Mas também:
O sacrifício do Filho é superior: v.3
“depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas” (v.3).
O final do v.3 destaca a preeminência de Jesus sobre os sacrifícios da antiga aliança. O sacrifício do Filho é final. Não é necessário outro sacrifício. E isto, por causa da natureza do Filho. Veja o destaque que o v.3 confere à natureza de Cristo. O pronome “Ele” ocorre no início do v.3. Veja Quem é “Ele”! É Ele, e só Ele que poderia realizar eterna redenção por nós.
Ele pode salvar, porque é Deus.
Só Deus pode salvar.
Jesus pode salvar.
Logo, Jesus é Deus.
Jesus não é o fundador de uma nova religião. O ser humano não precisa de uma nova religião. Precisa de salvação.
Quando aqui andou, Jesus foi profeta, mas Ele é mais do que emprofeta. Ele é a Palavra encarnada. Não é um mero sacerdote. É o Sumo Sacerdote, perfeito. Ele não ofereceu um animal como sacrifício, Ele é o próprio sacrífico, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Jesus é Deus, por isso é o Único e Suficiente Salvador.
Hb 9.12: “…pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção”.
Em Hb 9.22, lemos que sem derramamento de sangue não há perdão para o pecado. “O sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado” (1João 1.7).
Cristo é o “Autor da salvação eterna” (Hb 5.9).
O final do v.3 declara que Jesus “assentou-se à direita da Majestade, nas alturas”. Nem no tabernáculo nem no Templo haviam assentos para os sacerdotes. Os sacerdotes não se assentavam. Pois constantemente tinham que oferecer sacrifícios. O sacrifíciofeito hoje não valia mais para amanhã. Ano após ano o sumo sacerdote tinha que entrar no Santo dos santos para aspergir o sangue no propiciatório, sob a arca da aliança, e então Deus perdoava o povo de Israel. Em contrapartida, Cristo “assentou-se”, ou seja, não precisa mais oferecer-se novamente como sacrifício. “Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus” (Hb 10.12).O seu sacrifício foi único e definitivo.
“à direita da Majestade, nas alturas”. A “direita” é um lugar de honra. O Filho está nas “alturas”. Cristo tem o nome que está acima de todo nome (Fp 2.10).
O ser humano não é salvo por seus sacrifícios, mas pelo sacrifício perfeito de Cristo.
A religião é uma tentava frustrada do homem chegar-se a Deus. É como a torre de Babel: tenta subir ao céu, mas esse intento sempre acaba em confusão. Na narrativa de Babel, os homens disserem: “Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus” (Gn 11.4). Mas o Senhor disse: “Vinde, desçamos” (Gn 11.7). O homem não pode subir ao céu, mas Deus pode descer à terra para levar os homens ao céu.
A “purificação” era o banho ritual, a lavagem que os judeus faziam de si mesmos e de objetos, visando a purificação ritual. Aquelas lavagens apontavam a lavagem completa que seria realizada pelo sangue de Cristo. Só o sangue de Cristo pode nos dar um banho completo. Os rituais humanos tentam lavar os pecados, mas os pecados nunca serão limpos por esses rituais. O homem tenta se lavar por sua religião, mas a sujeira do pecado sempre continuará.
As pessoas que tentam salvar-se por seus próprios sacrifícios sempre ficam com a consciência pesada, porque no fundo sabem que não conseguiram (e nunca conseguirão!) fazerem o suficiente para serem salvas. Elas tentam ser perfeitas, tentam obedecer completamente a Deus, mas não conseguem.
1Jo 1:9: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”.
O ser humano, atolado no lamaçal do pecado, necessita de um “banho”. O convite do Espírito Santo não é “vem para a igreja”, “faça isso ou faça aquilo”, “venha para uma religião”. Nada disso. O convite do Espírito é: venha para Jesus, só Ele pode lhe dar um banho completo e definitivo.
Conclusão
A revelação do Filho é superior. A Pessoa do Filho é superior. O sacrifício do Filho é superior.
Jesus Cristo está acima da história, pois é Soberano. Cristo está antes da história, pois é o Criador do Universo. Cristo entrou na história, pois é o Sumo Sacerdote perfeito que se ofereceu a si mesmo como único e definitivo sacrifício para Deus, obtendo assim eterna redenção.
O autor aos Hebreus apresentou o seguinte convite para seus leitores originais: não troque Cristo pelo judaísmo. Hoje, a Palavra de Deus lhe diz: Não troque Cristo por nada.
Como diz o Hino 254 do HCC: Cristo, só Cristo.
1ª estrofe:
Sem cristo eu nada seria,
Sem cristo não sei andar;
Sem cristo eu vagaria
Qual barquinho no imenso mar.
Estribilho:
Cristo, só Cristo!
Queres hoje aceitar
Este amigo sem par?
Só Cristo, só Cristo!
Sem ele não há salvação.
[1]Simon Kistemaker, Comentário do Novo Testamento, Exposição de Hebreus (São Paulo: Editora Cultura, 2003), p. 46.