SALMO 22.19-21: O CLAMOR DO MESSIAS
Mensagem pregada pelo Pr Luciano R. Peterlevitz na Igreja Batista Bela Vista, em 08.03.2020.
Salmo 22.19-21:
19 Tu, porém, SENHOR, não te afastes de mim; força minha, apressa-te em socorrer-me. 20 Livra a minha alma da espada, e, das presas do cão, a minha vida. 21 Salva-me das fauces do leão e dos chifres dos búfalos; sim, tu me respondes.
Introdução
Na última mensagem analisamos o Salmo 22.1-18. Notamos que esses descrevem o sofrimento do Messias. Hoje vamos meditar nos versos 19-21: o clamor do Messias.
Nos versos 1-18, Davi, prefigurando o Messias, expõe seu sofrimento em três âmbitos: espiritual, emocional e físico. O v.19 apresenta um “porém”: “Tu, porém, Senhor”.
O “porém” muda tudo! Enfrentamos sofrimentos, porém há esperança no Deus da esperança.
Os v.19-21 apresentam o clamor de Davi (que, como vimos, prefigura o Messias). O que aprendemos com essa oração?
É um clamor que pede para Deus não se afastar: v.19
V.19a: “Tu, porém, SENHOR, não te afastes de mim” (ARA). “Tu, porém, Senhor, não fiques distante!’” (NVI).
O clamor pela presença divina perspassa os v.1-21:
V. 1: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?”
V.11: “Não te distancies de mim”
V.19a: “E tu, Javé, não fiques longe”.
Se o Senhor se afastar de nós, estamos perdidos! Mas podemos clamar ao Senhor com a certeza de que Ele está perto daqueles que o invocam em verdade (Sl 145.18).
É um clamor que pede por livramento: v.19b-21a
Davi reconhece que o Senhor é a sua força: “força minha apressa-te em socorrer-me” (v.19), literalmente “força minha, para meu socorro, depressa!”. Por isso estava certo de que receberia o socorro do Senhor.
Salmo 28.7-8: O SENHOR é a minha força e o meu escudo; nele o meu coração confia, nele fui socorrido; por isso, o meu coração exulta, e com o meu cântico o louvarei. O SENHOR é a força do seu povo, o refúgio salvador do seu ungido.
O sofredor clama para que o livramento que Javé havia dado aos antepassados (v.3-5) seja dado para ele também. No fundo, ele sabe que a afirmação dos seus zombadores (v.8) não é verdadeira. Por isso, continua clamando pelo livramento das “presas do cão” (v.20), “das fauces[boca] do leão” (v.21) e “dos chifres dos búfalos” (v.21, que furiosamente se levantavam contra ele (v.13, 16). Os seus inimigos são como animais ferozes que almejam capturar e devorar suas presas.
Sabe porque Davi não desistiu de clamar ao Senhor? Porque havia um poder sobrenatural, vindo do próprio Deus, que o impelia a clamar. O mesmo poder que esteve sobre Cristo desamparado na cruz. A força do Deus Poderoso! A mesma força que nos fortalece, e, se estamos caídos, pode nos colocar de pé.
Que tipo de livramento você necessita?
É um clamor que expressa a certeza da resposta de Deus: v.21b
Movido pela força de Deus, o sofredor pôde afirmar: “tu me respondes” (final do v.21). Sim, Deus respondeu seu clamor. Há um nítido contraste entre essa afirmação e o lamento do v.2 (“Deus meu, clamo de dia, e não me respondes”). No v.2, sua oração não era respondida. No v.3, finalmente é respondida.
Deus sempre responde nossa oração. Às vezes Ele diz “não”. Outras vezes o Senhor responde com um “sim”. “Esta é a confiança que temos ao nos aproximarmos de Deus: se pedirmos alguma coisa de acordo com a sua vontade, ele nos ouve.” (1 João 5.14).
A resposta de Deus sempre estará de acordo com Seus propósitos e com aquilo que nós mais necessitamos.
Aplicações Finais
Como Davi e como Cristo, nós também estamos sujeitos ao sofrimento espiritual (sentimento de abandono por Deus, embora, na verdade, o Senhor jamais nos abandona!), ao sofrimento emocional (solidão, medo, angústia, etc.) e ao sofrimento físico (decorrente de doenças, acidentes, etc.). Em meio ao sofrimento precisamos nos lembrar de pelo menos duas lições:
1) Deus permite que passemos por sofrimento
A teologia da prosperidade afirma: viva a vida sem sofrimento. Porém, lendo a Escritura, depreende-se o seguinte princípio: viva a vida, apesar do sofrimento.
Deus permite que passemos pelo sofrimento, para o cumprimento dos seus propósitos. O sofrimento de Davi apontava para o sofrimento e para a vitória do Messias. As suas angústias apontavam para Cristo. De alguma forma Deus usa nosso sofrimento para apontar para a glória de Cristo.
2) Deus cuida do nosso sofrimento
Só Deus pode cuidar do nosso sofrimento. Talvez não seja circunstancial que o salmo do “bom pastor” (salmo 23) segue imediatamente o salmo 22. No salmo 22, Davi lamenta suas dores. No salmo 23, ele afirma: “o Senhor é o meu pastor, não sentirei falta de nada”. O homem que se sentiu abandonado por Deus no salmo 22 foi acolhido por Deus no salmo 23.
O Senhor é o nosso Pastor!
Tempos atrás, ouvi o relato de um médico que trabalhou como voluntário em um campo de refugiados de guerra. Ele presenciou uma cena chocante: uma menina órfã, refugiada da guerra, desenhou três caixões: do seu pai, de sua mãe, e o dela entre os seus pais. Só Deus pode cuidar do sofrimento dessa menina.
Deus cuidou do sofrimento de Davi. Ele cuida do nosso sofrimento. Só Ele pode fazer isso.
Por isso podemos clamar. Podemos ir ao nosso Deus oração, suplicando “Deus meu, Deus meu”.
Podemos imaginar Davi entoando esse grito quando fugia de Saul. “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?”. Essas mesmas palavras de Davi, foram entoadas na cruz por Cristo (Mt 27.46; Mr 15.34). Essas palavras não somente estavam nos lábios de Davi em alguma caverna, mas também estavam nos lábios de Cristo na cruz.
Cristo foi abandonado pelo Pai porque, na cruz, estava assumindo nosso pecado e sobre Ele estava recaindo a ira do Pai. E agora, pelo abandono de Cristo, nós podemos dizer: “Deus meu, Deus meu”. Podemos até nos sentir desamparados. Mas sabemos que jamais seremos desemparados por Deus. Isso porque Cristo já foi totalmente desamparado por Deus para que nós nunca fossemos desemparado por Ele. Cristo Jesus venceu a morte! E o túmulo vazio é a prova definitiva de que nossas vidas nunca mais estarão vazias.