Três atitudes diante DAS REALIDADES DiFíCEIS

Postado em 13 de setembro de 2019 por

Categorias: Pregações

Pr Luciano R. Peterlevitz – Igreja Batista Bela Vista, 08.09.2019

TEXTO: Marcos 6.34

Introdução

Há realidades que não podemos negar. Mas, que realidades são essas? No contexto do ministério terreno de Jesus, podemos notar as seguintes realidades:

  • Muitas pessoas dominadas por espíritos demoníacos;
  • Muitos enfermos (dentre esses, os leprosos);
  • Muitos pobres e mendigos;
  • Publicanos e prostitutas.
  • Liderança corrompida.

Um dos enfermos disse para Jesus: “não tenho ninguém” (Jo 5.7). Sim, aquelas pessoas não tinham ninguém e eram tratadas como ninguéns; não tinham nada, e eram tratadas como se fossem nada. Pior do que não ter nada é ser tratado como um nada.

Mas precisamos mostrar aos “ninguéns” que eles são alguém diante de Deus. Jesus morreu por eles, e eles têm valor!

Entendendo a narrativa de Marcos 6.30-44

Marcos 6.30-44 narra a sensibilidade de Jesus frente à realidade difícil que o cercava. Uma multidão de pessoas estava faminta. Mas Cristo matou a fome daquela gente. Alimentou cinco mil homens com cinco pães e dois peixes, e levou seus discípulos a repartir o alimento com a multidão. 

De acordo com v.30, os discípulos voltaram da missão confiada por Jesus (veja Mc 6.7-13), e lhe relataram tudo o que tinham feito e ensinado.

Nos v.31-32, Jesus convida seus discípulos para repousarem em um “lugar deserto” (v.31), “um lugar solitário” (v.32), ou seja, um lugar abandonado e despovoado. Jesus almeja um descanso merecido para ele e seus discípulos. Afinal, depois de um dia de muito trabalho, eles precisam parar um pouco!

Mas o v.33 afirma que, quando Jesus e os discípulos chegaram ao lugar de descanso, o lugar deserto já não estava tão deserto. Muitas pessoas “chegaram antes deles”. 

Jesus queria um lugar deserto, longe das multidões. Mas a multidão foi atrás dele. O descanso de Jesus e dos discípulos acabou antes de começar!

O Senhor deu atenção àquelas pessoas (v.34). Observando o v.34, podemos perceber três atitudes de Jesus diante da multidão: visão, compaixão e ação. Precisamos ter essas três atitudes diante das realidades difíceis que nos cercam.

1ª atitude: Visão

V.34: “E Jesus, ao desembarcar, viu uma grande multidão e compadeceu-se deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor…”. 

Jesus “viu uma grande multidão”. Não se trata de um olhar qualquer. O verbo “ver” (grego eido) significa “ter consciência, observar, considerar, conhecer, entender”. Jesus olha com um olhar de compaixão. Quando Jesus olhou para aquelas pessoas, ele viu ovelhas sem pastor. Jesus não vê multidões. Ele vê ovelhas. 

Às vezes olhamos, mas não enxergamos. Olhamos, e vemos só multidões, mas não conseguimos ver ovelhas perdidas, desorientadas, que precisam de amparo.

Temos certa miopia para enxergar a difícil realidade que nos cerca.

Habacuque 1.3: “Por que razão me fazes ver a iniquidade, e a opressão? Pois a destruição e a violência estão diante de mim; há também contendas, e o litígio é suscitado.”

Como não ver a maldade que estava diante dele? Como não enxergar algo que está diante de nós?

As realidades estão diante de nós, mas não enxergamos. Muitas vezes agimos como se as realidades ao nosso redor não existissem. Mas são realidades que não podemos negar. Elas estão bem ai à nossa frente.

Oh Senhor, abra os nossos olhos!

Hoje o Senhor nos diz: “levantai os vossos olhos, e vede os campos” (Jo 4.35). Nossa tendência egoísta é olhar só para nós, para o nosso próprio mundo. Mas precisamos erguer os olhos para ver a realidade que está diante de nós.

2ª atitude: Compaixão

O v.34 ainda afirma que Jesus “compadeceu-se deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor”.

Jesus sentiu compaixão porque aquelas pessoas eram “como ovelhas que não têm pastor”. O verbo “se compadecer” (grego splagchnizomai), significa “ser movido pelas entranhas”, de onde vem a palavraesplancnologia: estudo das vísceras.

Certa vez Jesus se deparou um cortejo fúnebre (Lc 7.11-17). Uma viúva chorava a morte do seu filho único. “Logo que o Senhor a viu, encheu-se de compaixão por ela, e disse-lhe: Não chores.’” (Lc 7.13)

Lemos ai o estremecer das entranhas de Jesus. Jesus agia movido pela compaixão.

A narrativa de Mateus, paralela à narrativa de Marcos, diz que Jesus “curou os seus enfermos” (Mt 14.14). Entendemos a razão porque aquelas pessoas procurava Jesus. Elas queriam que seus doentes fossem curados. Elas esperavam que seus anseios e dificuldades fossem resolvidos pelo Senhor.

Jesus sentiu compaixão daquela multidão, mesmo sabendo que seria abandonado por ela (veja Jo 6). Jesus sabia muito bem que a multidão não queria nada com ele; ele sabia que aquelas pessoas só queriam o pão (Jo 6.26). Jesus ensinou essas pessoas, mesmo sabendo que elas não queriam nada com seu ensino. Aquelas pessoas eram incrédulas (Jo 6.36). Mas essa é a práxis de Jesus: fazer o bem para as pessoas, mesmo sabendo que elas não querem ouvir seu ensino.

Precisamos agir movidos pela compaixão. Isso significa fazer o bem sem a expectativa de ser retribuído com o bem. Precisamos ajudar as pessoas, mesmo que elas não queiram nada com nosso ensino. Precisamos fazer o bem para elas, mesmo que elas não queiram vir para nossa igreja.

3ª atitude: Ação

“e começou a ensinar-lhes muitas coisas”. Lc 9.10: “e falava-lhes do reino de Deus, e sarava os que necessitavam de cura”.

Portanto, são duas as ações de Jesus: ensino e cura.

Ensino: Jesus ensinava a multidão acerca do Reino de Deus (Lc 9.10). De acordo com o Evangelho de Marcos, Jesus pregava “o evangelho de Deus” (Mc 1.14). Anunciava que as boas novas de salvação haviam chegado.

Jesus realmente curou os enfermos daquela multidão. Mas não fez isso sem ensinar o evangelho do reino de Deus. Jesus não despreza a cura física, mas queria que aquelas pessoas percebessem que a cura da alma era mais importante do que a cura física.

Desafio: precisamos dar o pão físico, mas sem deixar de falar a respeito do Pão da Vida (veja Jo 6); precisamos oferecer o Pão da Vida, mas sem deixar de dar o pão físico. Aquelas multidões que foram até Jesus precisavam ser cuidadas e também precisam ser ensinadas. Por isso, Jesus prega para elas a respeito do evangelho do reino de Deus, e cura os seus enfermos.

Precisamos suprir as necessidades físicas das pessoas. Mas também precisamos leva-las a reconhecer Jesus como Senhor e Salvador. Essas pessoas precisam entender que terão plena paz somente quando forem perdoadas por Deus e quando a justiça perfeita de Cristo for colada sobre elas (Rm 5.1).

Jesus queria levar seus discípulos à ação (v.35-36). Os discípulos diziam: “mande as multidões embora”.

Então Jesus diz para eles: “dai-lhes vós mesmos de comer” (v.37). Será que Jesus está pedindo para eles fazerem o milagre? Afinal, como poderiam alimentar toda aquela gente?

Na verdade, Jesus estava dizendo que eles tinham a responsabilidade de alimentar a multidão. Eles tinham que encontrar o alimento. Como? Simplesmente eles tinham que pedir para Jesus atender à necessidade. A solução para o problema estava diante deles.

O milagre da multiplicação foi feito por Jesus (v.39-41). Os discípulos tão somente distribuíram os pães e os peixes (v.41). E, de acordo com os v.42-43, todos comeram e se fartaram. E ainda sopraram doze cestos de pão e peixe.

É importante notarmos a narrativa seguinte: Mr 6.45-52. Incredulidade é falta de compreensão a respeito de quem é Jesus. Eles achavam que Aquele homem que andava sobre as águas era um fantasma. Mas Jesus diz: “Sou eu” (v.50). É como se Jesus dissesse: “Vocês não estão me reconhecendo? Eu o sou o Deus que controla os ventos”. E o v.52 afirma que eles “não tinham entendido o milagre dos pães, mas seus corações estavam endurecidos”. Os discípulos agiram, distribuíram os pães, mas não entenderam o milagre!

O milagre dos pães tinha o objetivo de levar os discípulos a entenderem quem é Jesus. Ele é Deus, é o Pão da Vida (Jo 6.35). Mas eles não tinham entendido isso. Os discípulos precisavam crer que o Pão da vida é poderoso para multiplicar os pães, e é assim que a multidão seria alimentada.

Uma lição importante neste ponto:

Deus quer que a gente entenda Quem é Ele e o que Ele está fazendo.

Servir aos outros é a melhor maneira de conhecer a Deus. Ao distribuir os pães às multidões, os discípulos deveriam perguntar: “Quem é este que está fornecendo esses pães?”. No ato do servir, eles conheceriam melhor a Jesus. Você quer conhecer melhor a Deus? Então, não somente feche seus olhos para orar, mas também abra seus olhos para ver a multidão faminta e disponha-se para servi-la com o pão.

Importante: Deus não somente quer que a gente distribua o pão. Ele quer que, através da distribuição do pão, nós O conheçamos melhor. Quando Deus dá o pão aos outros através de nós, isso é uma oportunidade (dada pelo próprio Deus) de conhecer melhor o nosso Deus.

Muitas vezes fazermos as coisas, mas não nos damos conta que o Deus dos milagres está agindo e usando nossas vidas para que seus milagres se realizem, e assim desperdiçamos a oportunidade de conhecê-Lo ainda mais através desses milagres.

Conclusão

Como na época de Jesus, as nossas realidades são marcadas por enfermidades (físicas e espirituais), pobreza, desespero e desesperança. São realidades que não podem ser ignoradas. Não podemos fechar nossos olhos para essas realidades. Não podemos viver como se não tivéssemos nada a ver com elas. Antes, precisamos entender que Deus se importa com essas realidades, e Ele quer usar nossas vidas para que ouras vidas encontrem vida plena em Jesus.

O que precisamos fazer diante das realidades que nos cercam?

Três atitudes: visão, compaixão e ação. Precisarmos ver as realidades, precisamos se compadecer das pessoas que vivem nessas tristes realidades e precisamos agirvisando alcançar as pessoas para o evangelho, para que vidas sejam transformadas pela graça de Deus.