Os bem-aventurados (Parte 3)
Pr Luciano R. Peterlevitz – Igreja Batista Bela Vista, 11.08.2019 (Dia dos Pais)
TEXTO: Salmo 1.3
Introdução
Conforme já vimos, o Salmo 1 está dividido em três estrofes:
1ª estrofe – v.1-3: os bem-aventurados.
2ª estrofe – v.4-5: os ímpios.
3ª estrofe – v.6: o destino final dos justos e o destino final dos ímpios.
Como se nota, os versos 1-3 descrevem a pessoa bem-aventurada. Nas mensagens anteriores, refletimos nos versos 1 e 2. Vimos que o bem-aventurado é definido por aquilo que ele não faz (não segue a mesma rota dos ímpios – v.1) e por aquilo que ele faz (seu prazer está na lei do Senhor, e nela medita constantemente – v.2).
Na mensagem de hoje nossos olhos se voltarão para o v.3, que descreve a estabilidade e a benção do bem-aventurado. O bem-aventurado tem uma vida estável, firmada na presença de Deus, e sua vida é cercada com as bênçãos de Deus. O bem-aventurado possui raízes que alcançam as correntes de águas vivas, e por isso, ele sempre está cheio de rigor e vida.
Hoje, dia dos pais, eu gostaria de aplicar essa mensagem para a vida dos pais e filhos. Até poderíamos substituir no texto bíblico a palavra “homem” por “pai”:
“Bem aventurado o pai que…”.
Ou poderíamos ainda substituir por “filho/filha”:
“Bem aventurado o filho / a filha que…”.
Não haveria maior alegria para um filho cristão do que poder inserir o nome do seu pai nos versos 1-3 desse Salmo, e, do mesmo modo, não poderia haver maior alegria para um pai cristão do que poder inserir o nome do seu filho /filha nesses versos.
A fonte do bem-aventurado
O salmista compara o bem-aventurado com uma árvore plantada junto a corrente de águas. Que bela imagem!
As “águas” são símbolo da presença de Deus. O profeta Ezequiel viu um maravilhoso rio que escorria da morada de Deus (Ez 47.1).
O profeta apresenta a mesma imagem do Salmo 1.3: “Junto ao rio, às ribanceiras, de um e de outro lado, nascerá toda sorte de árvore que dá fruto para se comer; não fenecerá a sua folha, nem faltará o seu fruto; nos seus meses, produzirá novos frutos, porque as suas águas saem do santuário; o seu fruto servirá de alimento, e a sua folha, de remédio.” (Ezequiel 47.12).
O apóstolo João viu algo semelhante: “o rio da água da vida, brilhante como cristal, que sai do trono de Deus e do Cordeiro” (Ap 22.1).
As raízes do bem-aventurado chegam até as águas vivas que fluem da presença de Deus. Meditando na Palavra de Deus dia e noite, e vivendo na presença do Deus da Palavra, ele recebe os nutrientes necessários para uma vida cheia de vigor.
É interessante notar a palavra “corrente” (ARA). Aqui no Salmo 1.3, o termo (hebr. peleg) pode ser traduzido como “canais”, e refere-se a um “canal artificial”. No Antigo Testamento, essa palavra quase “sempre conota positivamente a canalização de água abundante, regozijante e vivificante em uma região seca.”[1]
Quando estamos no deserto, Deus canaliza sua água vivificante para esse lugar onde estamos. O Senhor, por meio de sua Palavra, revigora o sedento, e levanta o ânimo dos abatidos.
A recompensa do bem-aventurado
O bem-aventurado, “no devido tempo, dá o seu fruto”. O “fruto” é a recompensa. Produzir fruto, aqui, é usufluir das recompensas de uma vida bem-aventurada. No Salmo 58.11, o salmista declara: “Na verdade, há recompensa para o justo” (a palavra “recompensa”, hebraico peri, é a mesma que no Salmo 1.3 é traduzida como “fruto”). No Antigo Testamento, o “fruto” está associado à fartas colheitas (cf. Sl 72.16; 107.34-37),à fecundidade (Sl 127.3; cf. Gn 17.6[2]) e a uma vida tranquila na terra, sem opressão dos inimigos (Ez 34.27). O bem-aventurado tem uma vida longa e cheia de vigor (Sl 92.14).
Uma vida frutífera é uma vida cheia de paz e alegria. O bem-aventurado é coberto de toda sorte de benção espiritual e material.
Talvez você tem trabalhado muito, e não tem usufruido de recompensado alguma. Talvez você olha para sua família, e se pergunta: “onde estão as recompensas (bençãos) de Deus?”. Pense: você tem feitas as coisas do jeito certo? Você se encaixa no perfil apresentado no Salmo 1.1-3? Você tem se desviado do caminho dos ímpios? O seu prazer está na Palavra de Deus, e tem meditado nela todos os dias?
Se vivermos na vontade de Deus, certamente nossos esforços terão resultados permanentes.
Muitos pais não conseguem ganhar os corações dos seus filhos porque querem fazer as coisas do seu jeito, e não do jeito de Deus.
As recompensas tem o seu tempo: “no seu devido tempo”. Uma árvore frutífera leva tempo para produzir frutos.
A estabilidade do bem-aventurado
Outra afirmação acerca da árvore é que “sua folhagem não murcha”. As folhas serão preservadas nas estiagens fora das épocas, especialmente aquelas secas prolongadas. Mesmo nesses períodos, a árvore poderá produzir fruto, pois ela está junto aos ribeiros de águas.
A imagem apresentada pelos salmista é a mesma de Jeremias 17.7-8:
7 Bendito o homem que confia no SENHOR e cuja esperança é o SENHOR. 8 Porque ele é como a árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde; e, no ano de sequidão, não se perturba, nem deixa de dar fruto.
Portanto, quando vier a seca, as duras provações, o homem bem-aventurado que medita na instrução do Senhor não será abalado, não murchará, e o seu coração não será tomado pela ansiedade pecaminosa e incrédula, pois sua vida está enraizada nos mananciais de águas vivas que fluem da presença de Deus.
A promessa para o bem-aventurado
O v.3 encerra-se com uma promessa: “tudo quanto ele faz será bem sucedido”.
O verbo “ser bem sucedido”, “ser próspero” (hebr. saleah) também pode ser traduzido como “conduzir a um bom resultado”. Quem não almeja bons resultados? Bons resultados no trabalho, bons resultados em algum projeto de vida, bons resultados na família.
A Bíblia diz que José era um homem “próspero” (Gn 39.2). “Vendo Potifar que o Senhor era com ele e que tudo o que ele fazia o Senhor prosperava em suas mãos” (Gn 39.3). Onde José colocava as mãos, alguma coisa boa acontecia. Ele tinha bons resultados em tudo o que fazia.
Se meditarmos na Palavra de Deus dia e noite, se nela estiver o nosso prazer, certamente tudo o que fizermos estará de acordo com essa Palavra e os propósitos de Deus se cumprirão em nossas vidas, e, consequentemente, seremos abençoados e bem sucedidos em tudo o que fizermos.
Que, como pais, possamos buscar a vida bem-aventurada descrita no
Salmo 1.
[1]Bruce K. Waltke et. al., Os salmos como adoração cristã: um comentário histórico, p. 153.
[2] Em Gn 17.6, a expressão “far-te-ei fecundo” literalmente pode ser traduzida como “tornar-te-ei frutífero”.