Os desafios de ensinar a Palavra de Deus para as novas gerações
Pr Luciano R. Peterlevitz – Igreja Batista Bela Vista, 14.10.2018.
Provérbios 22.6
“Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não
se desviará dele.” – ARA
“Consagra a criança de acordo com o caminho dela; até quando ficar mais velha, não se desviará dele.” (Tradução do hebraico).
Introdução
É inegável que o mundo de hoje não é o mesmo de anos atrás, e o mundo de amanhã não será o mesmo de hoje. As coisas mudam rapidamente.
Outro dia, ouvia no rádio alguém dizendo que o facebook é coisa de velho. Já existem outras mídias sociais preferidas pelos jovens.
O que podemos constatar é que o mundo em que nós fomos educados não é o mesmo
mundo em que nossos filhos são educados. Os desafios que nossos filhos enfrentarão serão muito diferentes daqueles que nós enfrentamos em nossa geração.
É legitimo e necessário os pais passarem suas experiências para seu filhos. Entretanto, nós,
pais, precisamos entender que nossos filhos vivem em um mundo diferente do nosso. Os valores não podem mudar, mas as experiências mudam. A Palavra de Deus não muda, mas forma como a ensinamos muda.
Entendendo Provérbios 22.6
“Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele.” – ARA
“Consagra o jovem no princípio de seu caminho para que, nem quando velho, ele seja persuadido a desistir dele” (Daniel Santos Jr.).
Proponho a seguinte tradução:
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“Consagra a criança de acordo com o caminho dela; até quando ficar mais velha, não se desviará dele.”
Como diz o Pr Gilson Bifano, Provérbios 22.6 “não é uma promessa, mas um princípio para basearmos nossas ações educativas junto aos nossos filhos”.
O que lemos em Provérbios é o princípio da probabilidade. “Isto é, haverá uma grande
probabilidade das crianças, que aprenderam sobre a fé cristã seguirem os caminhos trilhados por Deus para suas vidas.” (Gilson Bifano).
Esta probabilidade será maior, na medida em que os pais vivenciam em casa os princípios do evangelho. A fé só pode ser ensinada quando é praticada.
Analisemos Provérbios 22.6.
O verbo “ensinar” (hebr. hanak), significa “treinar”, “dedicar” ou “consagrar”. É a única vez que esse verbo ocorre em Provérbios. O sentido básico é de dedicação de um edifício,
como uma casa (Dt 20.5) ou um templo (1Rs 8.63). Alguns estudiosos sugerem que, aqui em Provérbios 22.6, o verbo tem o sentido de “começar” ou “iniciar”.
Um edifício, logo após o término de sua construção, precisa ser dedicado ou inaugurado. De
forma semelhante, as crianças, logo após o nascimento e nos primeiros anos de sua vida, precisam ser consagradas e dedicadas ao Senhor (e isso certamente pressupõe o ensino da Palavra de Deus para elas).
O termo “criança” é a tradução do hebraico na‘ar, que também pode ser traduzido como “adolescente” ou “jovem” (Pv 7.7; Jr 1.6). A nossa cultura adere o pressuposto de que
existe uma fase que não é mais necessário educar o filho com vara, entretanto, o termo na‘ar também inclui o adolescente e o jovem.
“Ensina a criança no caminho” (ARA). Melhor tradução: “Consagra a criança de acordo com o caminho dela”. Prestemos atenção na expressão, “de acordo com o caminho dela” (hebr. ‘al-pi darko, literalmente “sobre a boca do seu caminho”), Ou seja, o ensino precisa ser de acordo com o caminho da criança.
O texto bíblico não está sugerindo que podemos deixar a criança seguir o seu próprio caminho.
O que Provérbios 22.6 está pontuando não é a questão do conteúdo, mas da forma como a gente transmite o conteúdo.
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Precisamos nos preocupar não somente com o que transmitimos, mas com a maneira como transmitimos.
Luis Alonso Schökel, comentando Provérbios 22.6, diz que se deve fazer a educação conforme um critério: a educação precisa estar de acordo com o caminho da criança, seu
estilo, o que lhe corresponda. Cada criança é diferente. Cada uma tem um jeito. E a educação precisa estar “de acordo com o caminho”, ou seja, se acordo com jeito de cada criança.
Afirmação fundamental de Provérbios 22.6
Consagre a criança ao Senhor desde os primeiros de sua vida (isso inclui os anos da infância, adolescência e juventude), contextualizando a Palavra de Deus de acordo com o
mundo em que essa criança vive (entendendo os desafios dessa era atual), e assim, você estará persuadindo essa criança a andar nos caminhos do Senhor quando ela se tornar adulta.
Implicação fundamental de Provérbios 22.6
O ensino não é só a transmissão de conteúdos, mas a transmissão de conteúdos que leva em consideração o estilo pessoal de cada criança/jovem e o mundo em que a criança/jovem vive.
Cada geração é diferente da outra. Um filho ou filha tem o seu próprio caminho, no sentido de que ele/ela vive em uma geração diferente dos seus pais.
Provérbios 1 -9 não somente instruem a sabedoria para o jovem, mas também fazem um
diagnóstico do mundo onde o jovem morava. “Antes de iniciar a lista de provérbios que catalogavam a sabedoria divina que deveria ser passada à geração vindoura, o livro de
Provérbios dedicou os nove capítulos iniciais para entender e mensurar o mundo em que o filho iria viver.” (Daniel Santos Jr.).
Qual é o mundo em que nossos filhos viverão? Qual é o caminho que certamente terão que
trilhar? Quais são as perguntas que certamente terão que responder? Qual o mundo que nossos filhos vivem hoje, e viverão no futuro?
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Como é o nosso mundo hoje?
- É um mundo urbano, e consequentemente, consumista
Segundo dados estatísticos da ONU, 55% da população brasileira em 1960 estavam
radicados na zona rural; em 2005 a parcela da população aglomerada nas zonas urbanas já
atingia os 84%.49 Isto significa dizer que nos últimos quarenta anos a população brasileira veio para a cidade e, inevitavelmente, encontra-se maravilhada e boquiaberta com as
novidades da cidade. Nossos filhos terão que pagar, de alguma maneira, as consequências
do pecado da avareza e do consumismo nos quais temos caído em nossos dias. Nossos
filhos terão que sobreviver em um mundo endividado, doente, poluído, violento e superpovoado, graças à falta de um planejamento de vida que leve em conta a próxima
geração. De que maneira o Deus das Escrituras, que fala através delas, nos tem alertado e
preparado para todos estes males? De que maneira nossa longa história de ouvir e proclamar a vontade de Deus tem sido destilada em “gotas de sabedoria” sobre nossos
filhos, e os filhos de nossos filhos? (Daniel Santos Jr.).
- É um mundo em que a pornografia e o erotismo são ensinados para as crianças
Através da internet e mídias sociais, as crianças são constantemente bombardeadas com a pornografia e com o erotismo.
*Muitos materiais didáticos do MEC estão comprometidos com valores sexuais repugnáveis. Livro: “Enquanto o sono não vem”, para crianças 6 a 8 anos. Um dos contos,
“A Triste História de Eredegalda”, relata o desejo de um rei de se casar com sua filha mais
bonita e de tornar a mãe dela uma criada. A menina é castigada por não aceitar a proposta: teria que comer somente carne com sal e não poderia mais beber água. Vemos nesse livro o incentivo ao incesto.
- É um mundo em que os valores da família são deturbados
O perigo da ideologia de gênero para as famílias.
Outro dia vi um vídeo infantil, em que o Homem-Aranha dançava uma música com movimentos femininos.
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Em futuro próximo, nossos filhos terão que defender a identidade sexual com a qual
nasceram; defender a liberdade de não precisar trocá-la, alterná-la ou mesclá-la com o sexo oposto.
Conclusão
Que o Senhor nos dê sabedoria, para que, mesmo diante dos desafios do mundo atual, possamos persuadir nossos filhos a andarem nos caminhos da Palavra de Deus.
O mundo e seus valores passarão. Mas a Palavra de Deus permanecerá para sempre.
Que o Senhor abençoe nossos filhos e os filhos dos nossos filhos.